Quase 70% dos brasileiros não supervisionam os deveres de casa das
crianças e mais de 40% não sabe o que elas fazem no tempo livre
A cada dez pais brasileiros que possuem filhos entre 13 e 15 anos,
sete não estão informados sobre os deveres de casa do adolescente, e não
sabem se eles entregam ou não a tarefa exigida pelos professores. Além
disso, 40% deles não sabem o que as crianças fazem durante o tempo
livre, e 25% desconhece que o filho havia faltado às aulas. Os dados são
da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (Pense), coletados ao longo do
ano de 2012 e divulgados ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), que ouviu 109 mil estudantes matriculados no 9.º
ano do ensino fundamental de 2,8 mil escolas do país.
Consequências
Falta de diálogo e desinteresse gera noção de falsa realidade
A falta de diálogo e o desinteresse dos pais pelas atividades dos
filhos gera uma noção falsa da realidade, contribuindo para um ciclo
vicioso, de acordo Dulce Bais, enfermeira e professora da Universidade
Federal do Paraná (UFPR) na área de Educação para a Saúde. “Os pais não
conversam com os filhos, não dialogam e o adolescente passa a agir
escondido. Como ele não fala no assunto e esconde o que faz, os pais
acham que está tudo bem. Cria-se um acordo silencioso entre as partes”.
Em relação ao álcool, o ideal é que os pais evitem beber na frente
dos filhos ou oferecer a eles um gole da bebida. Mas que, assim que
tenham idade para consumi-la, é preciso ensiná-los a beber de forma
dosada. “No Sul, beber vinho é tradição de família. Então, é possível
introduzir a bebida aos 15, 16 anos, mas junto com comida, numa ocasião
específica”, opina professora de psiquiatria da Faculdade de Medicina da
Unesp Florence Kerr Corrêa.
27,1% dos estudantes do 9º ano do ensino fundamental, entre 13
e 15 anos de idade, também informaram na pesquisa realizada pelo IBGE
que já dirigiram um veículo motorizado – o que é proibido por lei. 19,3%
desses jovens afirmaram ter andado de motocicleta sem usar capacete,
outra irregularidade.
A pesquisa também apontou que os jovens estão cada vez mais expostos a
fatores de risco, como o uso de drogas ilícitas (maconha e crack foram
as citadas), cigarro e álcool (66% já experimentaram bebida alcóolica, e
21% já ficaram embriagados). Quanto ao uso de drogas, 7,3% já
experimentaram alguma substância. Destes, 19% usaram maconha e 3% usaram
crack. O cigarro foi experimentado por 19,6% dos alunos. Os dados
revelaram também que 28,7% dos entrevistados já tiveram relações sexuais
e, destes, 25% afirmaram que não usaram preservativo na última vez em
que fizeram sexo.
Para o gerente de Estatísticas Vitais e Estimativas Populacionais
do IBGE, Marco Ratzsch de Andreazzi, a pouca participação dos pais na
vida dos filhos está intimamente relacionada ao comportamento arriscados
que eles assumem fora da escola. “São fatores de risco na adolescência
já bem conhecidos, com os quais a própria ONU trabalha, e leva-se em
conta se eles moram com pais, se estes sabem o que seus filhos fazem no
tempo livre, se há tranquilidade para que o filho conte sobre seus
problemas. Tudo isso mostra que há, sim, uma relação. Agora, com os
números do IBGE, cabe à sociedade explorá-los e discuti-los de forma
aprofundada”.
30% das meninas já tentou emagrecer
A pesquisa sobre saúde escolar divulgada ontem pelo IBGE também
constatou que cerca de um terço (31,1%) das meninas tentavam emagrecer.
Dentre elas, 6,4% das entrevistadas afirmaram ter induzido o próprio
vômito ou tomado laxantes para obter esse objetivo. Ainda no que tange o
peso, 16% delas tentavam engordar. Já entre os meninos, um percentual
menor (21%) tinha como objetivo perder peso, num resultado um pouco
superior aos 19,6% que desejavam ganhar peso. “É importante notar que
19,1% das alunas do 9º ano do ensino fundamental se achavam gordas ou
muito gordas e, no entanto, uma proporção maior (31,1%) relatou que
tentava perder peso”, ressalta o instituto.
Considerando as escolas da rede pública e privada, observou-se que
existe uma diferença de mais de 12 pontos percentuais entre os alunos
das escolas particulares que tentaram perder peso (36,4%) e aqueles que
frequentavam escola pública e tomavam essa atitude (24,2 %), segundo o
IBGE. Os dados mostram ainda que a ingestão de medicamentos, fórmulas ou
outro produto com a intenção de ganhar peso ou massa muscular sem
acompanhamento médico atingia 6,2% dos estudantes.
“Chamou a atenção o fato de que 8,4% do meninos declararam ter tomado
essa atitude, enquanto que a metade desse porcentual (4,2%) é de
meninas que declararam tê-lo feito, nos 30 dias que precederam a
pesquisa”, ressalta o IBGE. O dado sinaliza o uso de anabolizantes por
jovens, ainda na adolescência.
Fonte: Gazeta do Povo
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